Cada dia tem a sua importância, mas particularmente falando, os últimos dias foram de suma importância – é interessante como os momentos difíceis nos geram profundas reflexões.
Na última quarta-feira, fiz uso do meu espaço na rádio para falar acerca do PERDÃO. E hoje proponho uma extensão do tema já que, na verdade, há quem tenha a consciência do perdão que deve liberar ao outro, no entanto, não ‘se liga’ do perdão que deve liberar a si próprio.
Creio que perdoar a si mesmo não seja difícil pelo perdão propriamente dito, mas pelo caminho que se deve percorrer para tal. Perdoar a si mesmo exige TOTAL honestidade, total(!) transparência; e nesse processo de reconhecer a verdade, se reconhece os sentimentos que motivaram determinados comportamentos – se encontrar diante desse ‘espelho’ é o ‘momento crucial’ (é nesse ponto que você se depara com suas inseguranças e escuta os seus medos). Benjamim Franklin chegou a dizer que tão duro como o aço e o diamante é conhecer a si mesmo – convenhamos, se trata de uma verdade. Mas enfim, com isso, se faz necessário assumir a responsabilidade dos próprios atos e livrar-se daquilo que tem sido prejudicial, mudar o que não mais faz sentido; é hora de fazer as pazes consigo mesmo – e como isso é reconfortante!
Quanto ao ressentimento, a mágoa que se guarda de uma ofensa ou de um mal que se recebeu, essa gera desgaste; e perante tal, também se faz necessário uma busca interna, a fim de conhecer e entender melhor o que se passa do lado de dentro. Digo isso, pois muitas das vezes o nosso rancor advém de uma interpretação equivocada; qualquer ato está ligado a uma complexa rede de acontecimentos, e por trás de cada gesto há uma mensagem que tenta ser transmitida – ainda que de maneira errônea. Pode haver, de forma inconsciente, por parte do ofensor, uma compulsão repetitiva de voltar a um evento traumático ou a determinado padrão de comportamento. E nesse caso, houve uma transferência, aonde essa pessoa (se utilizando de um mecanismo de defesa psicológico) projetou seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis no outro – ou seja, você não era exatamente o alvo. É claro que cada ocorrência tem sua singularidade, entretanto, de qualquer modo, perdoar sempre será a melhor forma de seguir numa direção positiva e ultrapassar a situação; até porque, quem não perdoa continua ligado ao seu objeto de ressentimento, já que em sua mente continua a reviver o episódio que o magoou.
Como disse Martin Luther King, “Aquele que é desprovido da capacidade de perdoar é desprovido da capacidade de amar. Há algo de bom nos piores de nós e algo de mau nos melhores de nós. Quando descobrimos isso, somos menos propensos a odiar os nossos inimigos”.
Quando decidimos perdoar (sim, perdão é escolha!), damos um voto de confiança ao outro, uma oportunidade de fazê-lo refletir sobre o ocorrido, revisar sua atitude e corrigir sua postura. Além do mais, o liberar perdão é desatar os nós que nos prendem, nos permitindo assim uma caminhada mais leve.
O mal da nossa geração, de forma geral, é que desistimos fácil das pessoas (Bauman enfatiza isso em seus livros sobre o amor e a modernidade líquida); costumamos esgotar as possibilidades bem antes do nosso verdadeiro limite, não crendo na capacidade de melhora do outro(…)
Mas benditos aqueles que não disputam pela razão e se dispõem a perdoar, a ajudar, a restaurar.
Perdão é amor, e amor é o remédio mais poderoso que temos.
Texto escrito por
Rebeca Ramos